O CASO DOS OVOS
Dom coelho chegou ao supergalinheiro, todo esbaforido:
__ Por que não entregaram os meus ovos Madame? – perguntou, nervoso.
__ Os nossos ovos – corrigiu a Galinha-Mãe, uma legorne muito distinta. – Enquanto não estiveres entregues, os ovos ainda não são seus, Dom Coelho.
__ São meus, sim! Eu fiz a encomenda com dia marcado, e ela não foi entregue. Por que, hein, Madame? – insistiu ele, irritado.
__ Por que não ficou pronta, Dom Coelho – respondeu a Galinha-Mãe, tranquila.
__ O quê?! Faltam sete dias para a páscoa e a encomenda não ficou pronta? Explique-se, Madame! – gritou Dom Coelho, já bravo.
__ Calma, eu explico: é que as galinhas, quando não estão felizes e contentes, não conseguem botar ovos – falou a Legorne.
__ Não botam porque não querem! – intrometeu-se a galinha Garnisé, belicosa.
_ Não querem! Essa não! – berrou Dom Coelho, com os olhos vermelhos de raiva. – Eu tenho prazos a cumprir, sabiam? O Coelho-Pintor já está ordenhando o arco-íris, colhendo as tintas pra colorir os ovos! A Coelha-Cesteira já enfeitou um cento de cestas com laços de fita! Tudo está pronto para os despacho e falta o principal: os ovos! Os ovos! E vocês me vêm com essa história de não botarem ovos porque não estão contentes! Expliquem-se, senhoras galináceas! E já!
As galinhas começaram a cacarejar todas ao mesmo tempo.
__ Tou fraca, tou fraca, tou fraca, de tanto aguentar exploração! – queixava-se a Galinha-d`Angola, muito aflita.
__ Nós não vamos mais trabalhar desse jeito – declarou a Galinha-Caipira, decidida.
__ Não da mais para aturar tanta injustiça! – cacarejo a Galinha-Carijó, indignada.
__ Mas de que estão falando? – espantou-se Dom-Coelho, atordoado com a zoeira. –Qual é a injustiça? Não sei de injustiça nenhuma!
__ Ah, não sabe? – provocou Garnisé. – Então tire esses óculos escuros e veja!
Foi ai que Dom Coelho viu o grande grupo de jovens galináceas de todas as raças, que vinham carregando faixas com letreiros que diziam:
ESTAMOS EM GREVE
GALINHA BOTA OVO, COELHO LEVA A FAMA!
NÃO BOTAMOS MAIS OVOS PARA OS COELHOS!
QUEREMOS JUSTIÇA!
__ Que que é isso! – exclamou Dom-Coelho, alarmadíssimo – Madame, pense bem! Como é que nós vamos servir as crianças na Páscoa, se as galinhas se recusam a fornecer os ovos?!
__ Os coelhos que botem seus próprios ovos! – gritou uma Garnisé, com as asinhas nos quadris.
Dom Coelho ficou escandalizado:
- Coelho não bota ovo, dona Garnisé. Coelho não é ovíparo e sim vivíparo. Vi-ví-pa-ro, viu?
__ Não adianta falar difícil, Dom Coelho. Ovíparo, vivíparo, não interessa. Do jeito que está, não botamos mais ovos, pronto, fim de papo!
__ E as criancinhas? – falou Dom Coelho, com a sua voz mais melosa. – Vocês não pensam nas criancinhas, coitadas? Com o que elas vão brincar nesta Páscoa? Hein? Hein?
__ Com ovos de tartaruga! – cacarejou uma franga.
__ Com ovos de jacaré! – Piou um pinto (ou seria uma “pinta”?).
__ Com ovos de jararaca! – cocoricou um galeto.
Dom Coelho fez a última tentativa:
__ Então vocês querem mesmo deixar o negócio à concorrência? E logo às cobras e lagartos? Que horror! Que vexame!
__ O vexame será todo seu Dom Coelho, não acha? – falou a Galinha-Mãe, sempre tranquila. – Que tal entrar em negociações?
Dom Coelho viu as coisas malparadas e entregou os pontos:
__ Está bem, está bem. Vamos negociar: quais são as suas condições?
__ Ah, isto são outras falas – disse a Galinha-Mãe. – Nossa condição é uma só: queremos justiça e reconhecimento; queremos que cada um dos nossos ovos traga gravado o nome da galinha que o botou.
__ Condição aceita! – suspirou aliviado Dom Coelho.
__ Ótimo! Ao trabalho, companheiras! – comandou a Legorne.
E, ao comando da chefona, todas as galinhas correram para os ninhos e os ovos começaram a rolar alegremente.
E, naquela Páscoa, as crianças brincaram com ovos pintados e personalizados, com o nome de cada botadeira em cada ovo botado. Que é para todo mundo saber quem foi que botou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário